Apesar deste arrazoado, cá vai o meu poema de juventude, ilustrado por um desenho meu da mesma época:
Fome de tempo
Esta fome de tempo, que em vão tento
cobrir de escuridão e esquecimento,
é uma fome antiga mais que o mundo,
mas que nem séculos podem saciar.
Com que sofreguidão vou devorando
os segundos, em busca do instante
definitivo, que fora do tempo
existe, numa nova dimensão!
Mas a barreira de silêncio e medo
que entre mim e o tempo se levanta
é mais forte que a própria eternidade,
Porque esta fome não é do tempo morto,
em si contínuo, em si quotidiano,
mas do prolongamento do presente.
Júlio Freire de Andrade
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