segunda-feira, 14 de maio de 2018

Fome de tempo

Seja-me permitido agora publicar um poema da minha autoria. Sim, tenho guardados numa pasta de recordações numerosos papéis, poesias, desenhos, revistas e imprensa estudantil, recortes de revistas e até fotografias. E em jovem tentei a poesia e escrevinhei umas coisas. Mas não era positivamente a minha vocação. E foi assim que esqueci os devaneios poéticos e me dediquei ao estudo da Engenharia Química que me permitiu pagar a côdea que me tem sustentado todos estes anos.

Apesar deste arrazoado, cá vai o meu poema de juventude, ilustrado por um desenho meu da mesma época:

Fome de tempo
Esta fome de tempo, que em vão tento
cobrir de escuridão e esquecimento,
é uma fome antiga mais que o mundo,
mas que nem séculos podem saciar.

Com que sofreguidão vou devorando
os segundos, em busca do instante
definitivo, que fora do tempo
existe, numa nova dimensão!

Mas a barreira de silêncio e medo
que entre mim e o tempo se levanta
é mais forte que a própria eternidade,

Porque esta fome não é do tempo morto,
em si contínuo, em si quotidiano,
mas do prolongamento do presente.

Júlio Freire de Andrade


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