quinta-feira, 24 de maio de 2018

Se - Rudyard Kipling

Deixemo-nos, por agora de piadas. Vou tratar de um poesia muita séria e que tem sido considerada fundamental, não só no domínio poético, mas também no filosófico e até ético. Trata-se do célebre Se, de Rudyard Kipling. Cheguei a ele através das minhas irmãs que andavam entusiasmadas com o poema. E transmitiram-me o entusiasmo. De algum modo, procurei aproximar.me do ideal que o poema expressa. Começo por apresentar o original inglês. Mas o que soube de cor foi. como é evidente, a tradução portuguesa de Féliz Bermudes. Há outras traduções, mas não só esta é, a meu ver, a mais conseguida, como é a mais conhecida.

If - Rudyard Kipling

If you can keep your head when all about you
  Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
  But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
  Or being lied about, don’t deal in lies,
Or being hated, don’t give way to hating,
  And yet don’t look too good, nor talk too wise:

If you can dream—and not make dreams your master;
  If you can think—and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
  And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
  Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
  And stoop and build ’em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
  And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
  And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
  To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
  Except the Will which says to them: “Hold on!”

If you can talk with crowds and keep your virtue,
  Or walk with Kings—nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you,
  If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
  With sixty seconds’ worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that’s in it,
  And—which is more—you’ll be a Man, my son!





A tradução de Félix Bermudes é a seguinte:




Se - Rudyard Kipling, Tradução de Félix Bermudes

Se podes conservar o teu bom senso e a calma
Num mundo a delirar p’ra quem o louco és tu,
Se podes crer em ti com toda a força d’alma
Quando ninguém te crê, se vais faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário,
Se à torva intolerância, se à negra incompreensão
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão;

Se podes dizer bem de quem te calunia,
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afectação dum santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a esperança,
Sonhar, mas conservar--te acima do teu sonho,
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho;

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores,
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores;
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frazes que disseste,
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhe deste;

Se podes ver por terra as obras que fizeste
Vaiadas de malsins, desorientando o povo
E sem dizeres palavra e sem um termo agreste
Voltares ao princípio, a construir de novo;
Se podes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante
Quando no teu corpo afogado em crepúsculos
Só existe a vontade a comandar “Avante!”;

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre
Se vivendo entre os reis conservas a humildade
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade;
Se quem conta contigo encontra mais que a conta,
Se podes empregar os sessenta segundos
Dum minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraia em séculos fecundos;

Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu,
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços,
Mas inda para além um novo sol rompeu
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra--te meu filho, então serás um homem.

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